23.4.14

Book Report: Super Sad True Love Story - Gary Shteyngart



Um tempo atras alguém colocou um link no twitter para um post sobre livros com enredos que se passam em distopias (sorry, não guardei o tweet). Alguns eu já tinha lido, outros visto o filme: Do Androids Dream of Electric Sheep? (também vi o filme -> Blade Runner), The Man in the High Castle (adoro o Philip K. Dick), Logan's Run, 1984, Laranja Mecânica, V de Vingança, Jogos Vorazes, e por aí vai. Dos que não sabia nada, o que mais me chamou atenção foi esse Super Sad True Love Story (que também tem uma capa bacana). Saiu aqui no Brasil como Uma História de Amor Real e Supertriste.

Distopias estão sempre associadas a ficção científica, talvez pelo uso de tecnologia avançada, mas nem sempre é o caso. Nas distopias o futuro é sempre algo um pouco assombroso, com pessoas deturpadas, governos totalitários e autoritários, meio ambiente destruído, ou seja, nunca são otimistas. A distopia, para mim, é bem mais interessante do que a utopia. A utopia é uma fantasia perfeitinha e a distopia, bem, estamos mais perto do que esses autores descrevem do que imaginamos.

Fiquei curiosa com esse livro que me pareceu um mix interessante de sátira apocalíptica com uma história de amor triste (são as melhores). Na distopia desse livro NYC é uma cidade dividida onde as pessoas tem que passar por checkpoints para chegar até alguns bairros, quem não tem passagem nem chega perto do aeroporto, existem postes com aparelhos que medem o crédito das pessoas (e quem tiver crédito baixo e for imigrante corre o risco de ser deportado) e pode-se pagar mais para andar na primeira classe do metrô. A juventude é valiosa, idosos são esquecidos e os ricos querem viver para sempre e podem pagar por isso (através de alimentação alternativa, procedimentos com nanotecnologia, etc). O dólar americano não vale nada se não estiver atrelado a yuan chinês, aliás, só o yuan vale. Os EUA estão em vias de falência e os Chineses e Noruegueses dominam o mundo. Inclusive, os EUA estão em guerra com a Venezuela.

As pessoas são avaliadas constantemente (idade, endereço, crédito no banco, tipo sanguíneo, pressão arterial, etc). As mulheres são avaliadas por seus índices de personalidade e sexualidade, os homens por seu apelo sexual e capacidade de prover.

Todas as pessoas possuem um tal de äppärat, que vem a ser uma espécie de smartphone que faz tudo. Tudo mesmo. E os jovens não vivem sem ele. É onde se comunicam, compram, lêem notícias, fazem streaming de videos, ocasionalmente falam, e, principalmente, avaliam os outros e checam se suas avaliações foram boas. São tão dependentes de seus äppäräti que quando ficam um tempo sem ele cogitam suicídio porque precisam saber seu lugar no mundo (através das avaliações). (Ainda bem que isso é só no futuro fictício....Oh, wait!)

É nesse mundo que Lenny, um cara de 39 anos, filho de imigrantes russos, barrigudinho, ficando careca, se apaixona por Eunice, uma coreana-americana, de 20 e poucos, bonita e cheia de personalidade. Eles se conhecem na Itália, mas a história logo é transferida para NYC.

O lado de Lenny sabemos pelo o que ele escreve no seu diário. O lado da Eunice lemos em seus e-mails e mensagens trocadas com uma amiga, a mãe e a irmã. Lenny é apaixonado por Eunice, mas ela tem seus momentos de dúvida, as vezes ela gosta dele, as vezes não, contudo eles conseguem conviver e trazer algo para relação (Lenny com seus conhecimentos e Eunice com seu senso fashion).

Não vou contar como termina, vale a pena ler, é divertido e bem escrito. E é daqueles livros que te deixa com um pouquinho de medo porque é muito provável que tudo isso possa acontecer.

PS. Uma das coisas que mais me impressionaram nesse livro é que no futuro ler livros é coisa de gente velha, nojenta (aparentemente livros fedem) e doida. Os jovens só procuram partes relevantes em textos exibidos dos seus äppäräti, aliás, eles nem sabem ler textos inteiros, tudo é feito por imagens. Que esse futuro não chegue.

PS2. O livro tem um trailer engraçado com a participação do James Franco.

16.4.14

Analisando a música: Losing My Religion (R.E.M.)

Em 1991 se você não era surdo, ou não estava hibernando, certamente escutou essa música. Acho que até os índios enfiados nos cafundós da Amazônia identificam o bandolim desse hit que catapultou o R.E.M., uma banda alternativa, para o sucesso. E deve ser uma das músicas mais tocadas dos últimos tempos.

Até a minha mãe reconhece os acordes iniciais.

R.E.M. foi formada em 1980 em Athens, Georgia, no sul dos EUA. Michael Stipe, Peter Buck, Mike Mills e Bill Berry lançaram a primeira música em 1981, Radio Free Europe, mas o primeiro album, Murmur, foi em 1983. O R.E.M. ganhou reconhecimento fazendo muitos shows numa época que o circuito alternativo não era muito frequentado e eles conseguiriam uma boa legião de fãs. Arrisco até a dizer que o R.E.M. fez uma ponte entre o pós-punk e rock alternativo. O primeiro sucesso, e pézinho no mainstream, veio com The One I Love (do album Document de 1987). O album seguinte Green (1988) também é muito bom. O som do R.E.M. é bem marcante, do tipo que você facilmente identifica como sendo deles e não só pelo vocal do Michael Stipe. Não é a toa que algumas bandas que vieram depois beberam na fonte do R.E.M.

R.E.M. é um banda que ocupa um espaço considerável no meu iPod. Fui dar uma olhadinha e entre as mais tocadas estão: Be Mine, Lotus, The One I Love, Man On The Moon, Hollow Man, Star 69, Crush with the Eyeliner, It's The End Of The World.

A fama veio mesmo com Losing My Religion, uma música de quase 5 minutos, sem refrão e com um bandolim. Claro que ganhou Grammys (album e música). Alguns fãs mais radicais do rock alternativo, depois do sucesso de Losing My Religion em todos os lugares (radio, MTV, boteco da esquina), deixaram de curtir a banda só porque achavam que tinha virado mainstream, mas isso não abalou a banda. R.E.M., assim como Pearl Jam e algumas outras bandas, tem fãs que acompanham a banda religiosamente. (sim, eu fiz esse trocadilho)

O último album que tenho é o Accelerate de 2008 e gosto bastante.

Losing My Religion é do Out Of Time (de 1991), que foi o album de maior sucesso da banda. Além da analisada da vez, tem Shiny Happy People, Near Wild Heaven, Radio Song e Texarkana.

Eu até prefiro o album seguinte: Automatic for the People (1992). Tem Drive, Man on the Moon, The Sidewinder Sleeps Tonite, e Everybody Hurts -> FATO e um clássico da dor de cotovelo.

Losing My Religion não é sobre religião. Whaaat? Pois é.

O pessoal do forum tem suas teorias: é sobre depressão, é sobre drogas (sempre), é sobre religião (os óbvios), é sobre a fama...

Eu acho, e o próprio Michael Stipe já disse, que é sobre...wait for it... amor não correspondido e obsessão ("I wanted to write a classic song about obsession."). Aliás, dependendo do nível, a obsessão pode sim ser uma religião.

Vamos analisar.

Oh, life is bigger
It's bigger than you
And you are not me
The lengths that I will go to
The distance in you eyes
Oh, no I've said too much
I set it up

Então... ele está apaixonado e acha (quase com certeza) que não é correspondido. Começa a música com um fato: "a vida é maior do que você", ou seja, tentando se convencer que não é o fim do mundo se não for correspondido. Acontece que ele emenda: "e você não é eu", e essa ordem dos fatos é importante porque indica que ele sabe que não estão na mesma página. Aí ele diz que faria qualquer coisa por essa pessoa, mas vê a distância nos olhos dela (a falta de interesse). "Falei demais!", armou uma situação que agora não tem como escapar.

That's me in the corner
That's me in the spot light
Losing my religion
Trying to keep up with you
And I don't know if I can do it
Oh, no I've said too much
I haven't said enough

"Sou eu ali no canto escondido ou sob a luz do holofote." Losing my religion é uma expressão comum no sul dos EUA que significa: cheguei no limite, perdi a compostura, perdi a fé, deixei de acreditar, estou com raiva. Parece que é comum quando alguém dá um piti o outro dizer "losing your religion". O sul dos EUA é onde tem uma área conhecida como Bible Belt e claro que expressões religiosas devem pipocar por lá para se referirem a tudo. Pode ser também que ele está perdendo fé na situação que, obviamente, não vai acabar como ele quer. Aí ele repete: "Falei demais!" e emenda "Mas não falei o bastante". Ele está tentando deixar uma dica, mas parece que não esta sendo eficiente.

I thought that I heard you laughing
I thought that I heard you sing
I think I thought I saw you try

Aqui é ele tentando decifrar o que a outra pessoa está pensando, ou o que ele acha que ela está querendo dizer. Por isso nada é afirmativo, é tudo achismo: "acho escutei você rir, acho que escutei você cantar.". E a máxima da dupla dúvida: "acho que achei que vi você tentar."
Amigo, está tudo na sua cabeça.

Every whisper
Every waking hour
I'm choosing my confessions
Trying to keep an eye on you
Like a hurt, lost and blinded fool 
Oh, no I've said too much
I've set it up

Cada sussurro e a cada hora que está acordado ele está escolhendo a dedo o que vai confessar para a pessoa amada. Como bom stalker, está de olho nela, e ao mesmo tempo se sente um idiota perdido, cego e machucado. "Ih, falei demais!", mas meio que colocou as cartas na mesa.

Consider this
Consider this 
The hint of a century
Consider this
The slip 
That brought me to my knees
Failed
What if all these fantasies
Come flailing around
Now I've said too much

E no momento #ficadica: "Pensa bem, considere essa a indireta (direta) do século. Tudo isso que eu disse me deixou de joelhos, fracassado. E se todas essa fantasias estão agitando tudo na minha cabeça?" Agora ele falou demais mesmo.

That's me in the corner
That's me in the spot light
Losing my religion
Trying to keep up with you
And I don't know if I can do it
Oh, no I've said too much
I haven't said enough

I thought that I heard you laughing
I thought that I heard you sing
I think I thought I saw you try

Ele dizendo: "Estou aqui, olha para mim, estou no limite da razão, tentando te dizer algo importante..." mas parece que a pessoa amada ou não entende a dica, ou entende muito bem e está fazendo cara de paisagem.

But that was just a dream
Try, cry, why, try
That was just a dream
Just a dream

E no fim, tentando disfarçar, ele conclui que foi só um sonho. (amigo, eu disse que estava tudo na sua cabeça) Para que tentar, chorar, etc. Só. Um. Sonho. Acorda que a fila anda.

O video é um clássico. Tem elementos religiosos (tem santo, tem anjo sarado, tem hindu, tem leite derramado, tem Michael Stipe fazendo a dança da chuva) que até podem dar a idéia que é uma música sobre religião, mas é tudo idéia da cabeça do diretor Tarsem Singh junto com pitacos do Michel Stipe. O Tarsem Singh é um diretor indiano (por isso uma vibe bollywood no video) que trabalha muito bem o conceito visual (já histórias nem tanto). Ele dirigiu: A Cela e Mirror Mirror (o da Branca de Neve com a Julia Roberts). Eu gosto muito desse video, inclusive de todo o nonsense.

Vamos bater palmas e dançar, sem perder a religião.





E para quem quiser, aqui está um video com o próprio Michael Stipe dizendo sobre o que é essa música.

9.4.14

Malhação

Os leitores do blog sabem que adoro uma atividade física e pratico vários esportes, quase todos ao ar livre. Um dos que mais gosto é a corrida de rua, e para melhorar o tempo e desempenho nas provas é necessário fazer musculação para fortalecer as pernas e costas. Acontece que detesto fazer musculação, acho chato e mais do mesmo.

A última vez que frequentei a musculação foi em 2012. Fui na academia que, teoricamente, era para ter um professor para cada 4 alunos, mas no fim era o de sempre: o instrutor faz a ficha (sem criatividade), dá uma olhadinha e vai fofocar com azamigues. Fiz três meses (ia to-do dia para fazer valer o din din) e parei.

Essa semana decidi que ia voltar a musculação para ver se o desempenho na corrida vai melhorar mesmo e fui atrás de uma academia perto de casa. O que eu não sabia era como o preço tinha aumentado! Acabei escolhendo uma que já frequentei, sem ar condicionado (fujo do ar condicionado), e que era a menos cara: 260 dilmas no horário executivo (mais em conta). Sem contar que se eu quiser fazer spinning tenho que pagar mais.

Já fiz treino funcional, gosto mais do que musculação, mas o melhor lugar para essa modalidade que tem mais perto de casa cobra esse mesmo preço por duas vezes por semana na aula coletiva. Oi?

Bem, paguei (relutante) e comecei a musculação. Um mês sei que faço, já o segundo....

Aí, hoje estava papeando no skype com uma amiga que mora na Alemanha e ela me contou da academia que ela também começou a frequentar faz pouco tempo. A academia fica a um quarteirão da casa dela, com equipamento moderno (made in Germany), app para instruções de como usar as máquinas, salas com aula de spinning e outros treinos, tem um tal de cybertrainning, e funciona 24 horas. Tudo isso pela bagatela de 20 euros mensais. VINTE EUROS! A app faz até aquela ficha básica para você. E, para completar, ela ainda disse: "e tem cada homem bonito malhando lá...".

Inveja define.

Desse jeito eu ia muito mais feliz para a musculação.


6.4.14

A semana no Rio (6)


Última semana no Rio. E foi assim:

fui na exposição do Ron Muek
um rolé por copacabana a noite
fui conhecer a biblioteca parque reformada
praia em ipanema sempre vai bem
fui ver minha amiga juliana no rainha
da praia
uma volta na lagoa
a kombi das flores
o centro de transmissão da FIFA sendo construído
(na praia e não no estádio)
visitei a luizinha e o bernardo ficou de olho nos
docinhos
live painting no evento hipster
e fiz stand up em copacabana 

Até a próxima temporada carioca.

2.4.14

Biblioteca Parque Estadual

Eu adoro ler, tem até uma sessão dedicada aos livros aqui no blog. Acontece que das bibliotecas públicas que entrei aqui no Brasil nenhuma era agradável, nem para ficar lendo nem para escolher os livros.

entrada pela Av. Presidente Vargas

Hoje fui conhecer a reformada e reinaugurada Biblioteca Parque Estadual no Centro da cidade. Não sei como era antes, não me lembro de ter reparado no prédio que era da década de 1980, mas ficou linda!

entrada pelo Saara

O slogan escolhido foi "Uma biblioteca que tem de tudo. Até livro." A idéia é de fazer da biblioteca um parque onde as pessoas vão passear.


O espaço ficou amplo, fácil de achar as sessões dos livros, com muitas áreas de leitura com cadeiras confortáveis. Tem áreas de trabalho com tomadas para quem traz seu computador, tem computadores a disposição, tem uma área para ver videos e filmes e outra de música inclusive com um estúdio de gravação. Tem teatro, auditório e até um espaço para o ócio.


Tem um café e um restaurante, e uma área aberta para quem não quer ficar no ar condicionado.


O espaço é convidativo e estava cheio. Segundo o rapaz que trabalha na sessão de quadrinhos (como não gostar de um lugar com sessão de quadrinhos?) eles tem recebido um bocado de gente, especialmente o pessoal que sai da Central e passa por ali.


Ainda estão organizando os livros, mas já tem bastante coisa nas prateleiras. É só fazer a carteirinha e pegar livro emprestado.

guarda-volumes


Até junho tem a exposição Vinicius de Moraes - 100 anos que está muito bacana. Todas as quartas até junho vai haver shows com músicas e poesias dele.



A Biblioteca Parque Estadual abre de terça a domingo das 10h às 20h.

As outras Bibliotecas Parque ficam em: Niterói, Manguinhos e Rocinha.