11.6.17

Domingo Corrido

Nos últimos três anos corri poucas provas, ano passado só corri a de revezamento. Não parei de treinar mas não passo de 8km nos treinos.

Estava treinando bem e ia até me inscrever para correr 10km, mas resolvi por 5km porque queria ir e voltar da prova de bicicleta e poderia ficar muito cansada se corresse 10km. Decisão acertada!

Primeiro apareceu uma lesão na panturrilha (que melhorou a tempo da corrida) que para 5km deu para correr tranquilo, mas 10km não teria conseguido.

Depois, quando acordei hoje estava chovendo muito e fiquei esperando a chuva passar para poder ir de bicicleta. A chuva passou mas foi bem em cima do horário e tive que pedalar tour de france style para chegar a tempo. Cheguei já cansada claro, e ainda bem que foram só 5km.

A corrida da Unifor é ótima, o percurso é quase todo na sombra, a parte dentro da universidade é muito arborizada e tem a pista de atletismo que é uma delícia para correr.

Fiz um tempo bom e vou ver se me inscrevo em outras provas, quem sabe de 10km.



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6.6.17

Mulher Maravilha



Finalmente um filme da Mulher Maravilha! E é muito bom.

Desde a década de 1970 a Mulher Maravilha não aparecia em nada dessas coisas de super heróis. Teve o desenho da Liga da Justiça na década de 1980 e uma tentativa frustrada de série (uns 3 anos atrás), mas fora isso ela só apareceu no Batman vs Superman para colocar ordem na bodega.

Esse é o filme de origem dela.

Diana é a única criança na ilha das Amazonas e ela adora ver os treinos das guerreiras. Ela é filha da Rainha Hipólita, que fez uma estátua e pediu para Zeus dar vida, assim nasceu Diana (ou é o que contam para ela). Diana cresce sendo treinada (as vezes em segredo) pela tia Antiope (uma Robin Wright fazendo Claire Underwood malhada e pronta para guerra) e um belo dia um avião atravessa a barreira de névoa que protege a ilha e cai no mar.

Diana vê tudo e vai lá salvar o piloto. Steve Trevor (Chris Pine lindão) é o primeiro homem que ela vê na vida e é só curiosidade. Mas antes de explorar essa novidade alguns barcos cheios de soldados alemães chegam e as Amazonas vão para batalha.

Diana fica conhecendo as armas de fogo, afinal as Amazonas só lutam com arcos, flechas, espadas, facas e força física (e por isso o tanto de camera lenta usado, parece um ballet). Depois de uma batalha com os alemães as Amazonas amarram o Steve com o laço da verdade e ele conta tudo. Diz que o mundo está em guerra, que a coisa está feia do lado de lá da névoa e que ele precisa voltar.

Diana diz que vai com ele porque ela sabe que o responsável por toda essa confusão é o deus da guerra Ares e ela precisa enfrentá-lo. Ela pega o laço, o escudo, a espada e vai. (Nada de jato invisível nesse filme.)

Diana e Steve seguem para Londres e essa parte do filme é divertida. Diana tem uma certa ingenuidade em relação as coisas do nosso mundo e ao mesmo tempo ela trata tudo com muita naturalidade. Ela veio para resolver as coisas, e ao mesmo tempo que ela vem decidia, ela se comove com os feridos de guerra e se delicia com um sorvete. Gal Gadot não é essa coisa toda de atriz, mas a beleza, o porte físico e a ingenuidade inicial da Mulher Maravilha ela tem.

Daí para frente Diana e Steve vão numa missão para impedir um ataque de armas químicas que podem acabar com o possível fim da guerra.

O Steve é um cara parceiro, ele acompanha a Diana o filme inteiro e em nenhum momento ele é condescendente. Quando ele dá explicações é porque ele tem mais experiência no que está acontecendo e quando ela decide agir ele acompanha e ajuda.

Gostei desse filme, é o melhor da DC dessa última leva. Já falei do último Homem de Aço e do Batman vs Superman aqui no blog e ambos tem muitas coisas duvidosas. No filme da Mulher Maravilha até a pirotecnia exagerada que a DC adora cai bem. O filme trabalha bem o humor, tem as piadas clássicas de "um deus/ET/pessoa de fora que não entende nossos costumes" e todas funcionam.

A Tia Helô iria gostar muito da menina Diana. 215 "Ai, Jesus!" para a Mulher Maravilha que é puro girl power.

Que venha o filme da Liga da Justiça. Queremos mais Mulher Maravilha!

2.6.17

Analisando a música: Everything Now (Arcade Fire)

Acho que nunca fiz um analisando a música tão atual. O Arcade Fire tem um album novo que será lançado em julho, e ontem jogaram essa música nova nas redes sociais.

Para mim apareceu no Twitter, claro, que é minha rede social favorita e onde chega, para mim, a maior parte das informações e notícias.

Adorei melodia inicial que de cara lembra qualquer música do ABBA, e como já disse algumas vezes aqui no blog, inclusive no post anterior a esse, os suecos são mestres em fazer hits pop.

Acontece que o Arcade Fire não é uma banda pop e muito menos sueca, pelo contrário, eles são alternativos nível hipster. É uma banda canadense de indie rock, formada em 2001 e é praticamente uma família: marido, esposa, irmão mais novo e amigos. O som deles é bem variado, é elaborado e eles não tem medo de experimentar - o que acho ótimo mesmo dando certo ou não. As letras costumam ter criticas sociais poeticamente colocadas no meio dos acordes.

O primeiro album foi Funeral (2004) que tem Neighborhood #2 (Laika), o segundo é o ótimo Neon Bible (2007) que é um album bem experimental e tem a ótima No Cars Go. O terceiro é The Suburbs (2010) que foi o maior sucesso comercial e de crítica da banda, inclusive ganhou um Grammy de Album do Ano em 2011, é bom de ponta a ponta, e tem uma das músicas mais tocadas na minha playlist de corrida: Ready To Start.  O quarto album Reflektor (2013) que tem uma música que veio com um video sensacional estrelado pelo Andrew Garfield: We Exist. Então aguardo o lançamento do próximo album com muita curiosidade e se depender dessa primeira música, já gostei.

I'm in the black again
Can't make it back again
We can just pretend
We'll make it home again
From everything now

O video começa com essa introdução, a música que está nas redes (spotify, apple music, etc) não tem (talvez no album tenha), mas como coloco o video aqui e provavelmente tem algum significado, vamos analisar.

O titulo dessa música (e do album) me lembra um dos discos dos Titãs que se chama: Tudo ao Mesmo Tempo Agora. Gosto muito de usar essa expressão juntando todas as palavras e quem lê o blog certamente já viu muitas vezes nos posts.

Ele começa dizendo que está no escuro outra vez, que não consegue voltar. Onde? Não sei. talvez seja de um mundo moderno no qual não tem volta, mas ele quer fingir que pode voltar para casa (ou uma zona de conforto) dessa coisa que é tudoaomesmotempoagora.

Acho que temos uma música sobre tempos modernos - um titulo de música do Lulu Santos. (Hoje estou cheia de referências do rock nacional para fazer análise) E como diz Lulu na sua música "não há tempo que volte, amor.". Mas vamos saber o que o Arcade fire tem a dizer sobre o assunto.

No video a camera vai por uma estrada, chega numa mulher no teto do carro, tem um PAH! e começa a música de fato.

Every inch of sky's got a star
Every inch of skin's got a scar
I guess that you've got everything now
Every inch of space in your head
Is filled up with the things that you read
I guess you've got everything now
And every film that you've ever seen
Fills the spaces up in your dreams
That reminds me

E que delícia essa introdução ABBA style! No The Suburbs tem uma música, We Used To Wait, que também tem uma introdução meio ABBA. O pessoal do Arcade Fire deve gostar do ABBA, mas quem não gosta?

"Cada polegada de céu tem uma estrela." (Americanos e suas unidades de medida que ninguém entende. O cantor é americano que mora no Canadá há muito anos, mas acho que usar centímetros não ficaria tão poético, além do que a expressão em inglês é polegadas mesmo.)
"Cada polegada de pele tem uma cicatriz", então ele acha que todo mundo tem tudo agora.
Cada espaço da nossa cabeça está cheia de coisas que lemos, é muita informação, temos tudo, e até no inconsciente nossos sonhos estão preenchidos com os filmes que vemos.

É verdade. Já tive vários sonhos com o Don Draper de Mad Men, Sawyer de Lost, Kevin de The Leftovers, e por aí vai.

(Everything now)

E isso o lembra que...tudoaomesmotempoagora.

Every inch of road's got a sign
And every boy uses the same line
I pledge allegiance to everything now
Every song that I've ever heard
Is playing at the same time, it's absurd
And it reminds me, we've got everything now
We turn the speakers up till they break
'Cause every time you smile it's a fake
Stop pretending, you've got..

Cada polegada de estrada tem uma placa. Bem, só se for nos USA, Canadá ou Europa, porque aqui dá para se perder por falta de placas. Mas ele está falando de propaganda para todo lado e isso tem em qualquer lugar. Estamos afogados em informação.
"Every boy uses the same line", é tudo repetido e como já dizia Lavoisier (modo filosófico: ON) - nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. Everything is a remix.
Somos todos fiéis a tudo agora, queremos tudo na ponta dos dedos.
Todas as músicas que ele já escutou estão tocando tudoaomesmotempoagora. Ele acha absurdo mas lembra que temos acesso a tudo agora: imagens, sons, palavras...
"Porque toda vez que você sorri é falso", é aquele sorriso para a selfie do instagram.

A musica vai ficando poluída de sons nas ultimas frases desse verso depois que ele fala que vai aumentar as caixas de som até quebrarem.

Então para de fingir, você tem...

Everything now! I need it
Everything now! I want it
Everything now! I can't live without
Everything now! I can't live without
Everything now!

O refrão é ótimo! 
Tudo agora! Preciso! Quero! Não posso viver sem!
Mesmo que tenhamos tudo que precisamos, queremos mais, de tudo.

E essa flauta peruana depois do refrão? Preciso! Quero! Não posso viver sem!

Every ancient road's got a town
Daddy, how come you're never around?
I miss you, like everything now
Mama, leave the food on the stove
Leave your car in the middle of the road
This happy family with everything now
We turn the speakers up till they break
'Cause every time you smile it's a fake
Stop pretending, you've got


Essa estrofe considera a possibilidade que apesar de termos tudo disponível tecnologicamente e comercialmente algumas outras coisas da vida real não conseguimos ter. Mas é interessante a frase "Sinto falta de você como tudo agora." Ou seja, sente falta do Daddy como sente falta de todas as coisas que quer ter. Pausa para reflexão.
"Mãe, larga a comida no fogão, o carro no meio da rua, essa familia já é feliz com tudo agora." E vamos sorrir para a selfie!

Everything now! I need it
Everything now! I want it
Everything now! I can't live without
Everything now! I can't live without
Everything now!

Tudo agora! Preciso! Quero! Não posso viver sem!

'Til every room in my house is filled with shit I couldn't live without

Melhor frase da música que define nosso tempos modernos: Quero e preciso de tudo agora até cada quarto da minha casa estar cheio de porcaria que não pude viver sem.

Vai um minimalismo aí?

Everything now! I need it
Everything now! I can't live without
Everything now!

Tudo agora! Preciso! Não posso viver sem!

La La La La La La Na Na Na

Tem essa pausa na música e claro que não podia faltar um coro fazendo la la la com a flauta peruana.

Stop pretending, you've got

Everything now! I need it
Everything now! I want it
Everything now! I can't live without
Everything now! I can't live without
Everything now!

E vamos parar de fingir porque temos tudo agora. Preciso! Quero! Não posso viver sem!

And every room in my house is filled with shit I couldn't live without

"A casa agora já está cheia de besteiras que não pude viver sem." Acumuladores.

Everything now! I need it
Everything now! I can't live without
Everything now! I can't live 
Everything now!

Tudo agora! Preciso! Não posso viver sem! Não posso viver. 

Every inch of space in my heart is filled with something I'll never start

A vontade de começar e mudar está lá, mas o tudoaomesmotempoagora está sufocando.

The ashes of everything now
And then you're black again
Can't make it back again
From everything now

A estrofe de introdução do video é para complementar essa estrofe final da música. Tudo agora está em cinzas e estamos no escuro outra vez, não podemos voltar do tudo agora, mas quem sabe seguir em frente com menos coisas que precisamos, queremos e não podemos viver sem.


O Arcade Fire trabalha bem a linguagem visual dos videos. O video de Everything Now merece uma análise própria, mas só vou dizer que a banda chegou a criar uma marca para essa música que também é o título do album. A marca está nos uniformes que a banda usa, nas pastas que os vendedores de porta em porta carregam e nas costas dos cientistas (?). O cenário é um deserto com pessoas que aparentemente não tem tudo, ou tem? Será que querem?

Essa música é ótima para um road trip.